Uma notícia divulgada na última segunda-feira (5/5) traz à baila uma realidade que está tão velha quanto o seu objeto preocupante e deprimente: o analfabetismo. A notícia diz que “o Brasil não tem avançado no combate ao analfabetismo funcional...”
Ora: qual é a novidade trazida pelo Indicador de Analfabetismo Funcional? Nenhuma. O próprio IBGE, no Censo de 2022, aponta este e outros números apavorantes sobre a educação e o aprendizado dos brasileiros. Revela por exemplo, que o município de Eunápolis-BA abriga 11 mil analfabetos. Neste município jamais se "ameaçou" discutir tal situação. Estes não são analfabetos funcionais; são analfabetos absolutos, os chamados “analfabetos de pai e mãe”.
Conforme o Indicador, cerca de 29% dos brasileiros de 15 a 64 anos eram analfabetos funcionais em 2024 — mesmo patamar de 2018, quando foi realizada a edição anterior do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf).
O levantamento considera analfabeto funcional a pessoa que consegue apenas ler palavras isoladas, frases curtas, ou apenas identificar números familiares, como contatos telefônicos, endereços, preços, etc.
Infelizmente trata-se de uma realidade que tende a se perpetuar, tanto o analfabetismo puro e simples, como o analfabetismo funcional, haja vista o desinteresse da própria sociedade e dos gestores do setor público em todos os níveis. Lamentável que essa chaga continue servindo como elemento de retórica da classe política. A essa altura, não temos apenas o analfabetismo funcional evidente, mas o analfabetismo cultural, aquele que se tornou falácia, conversa mole, embromação, discurso vazio e que possibilita a ação de oportunistas que se elegem reiteradamente para cargos públicos com o discurso da educação. Todo mundo vê o analfabetismo como fator negativo, mas ninguém toma providência para alterar a situação.
O estudo do Inaf é de suma importância para o país, tendo em vista que verdades como estas são camufladas por projetos oficiais ou não. É preciso investir, mas é imperativo que paralelamente aos investimentos, haja o compromisso dos dirigentes públicos com a mudança da realidade educacional e cultural do Brasil.
A alta taxa de alfabetizados entre os mais jovens é o ponto positivo da informação do Inaf. Ele evidencia o “efeito positivo das políticas de inclusão e valorização da escola para crianças e jovens realizadas nas últimas duas décadas”. Temos uma realidade nacional em que milhares de dirigentes públicos, condutores, coordenadores e executores de políticas educacionais que jamais leu um livro. Considere-se, portanto, os números do Inaf, até muito generosos e democráticos diante dos fatos.
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