A impressão que ocorre é que a sociedade eunapolitana vive em um plano tão superior e inatingível, que não é afetada por qualquer problema, seja ele de cunho econômico, social, político, psicológico, espiritual. Ela parece ter uma blindagem superior. Não tem nenhum compromisso social. Não está nem aí para o que acontece nas ruas. O pior é que ela não conhece os números de Eunápolis. Essa coisa da física, de que “não existe efeito sem causa” simplesmente não se cria na terra de seu Eunápio.
O preâmbulo é para manifestar preocupação com a aprovação de medida pela Câmara Municipal de Eunápolis, pela qual se eleva a Guarda Civil Municipal à condição de Polícia Municipal. Trata-se de mais uma matéria que é levada a Plenário, sendo aprovada sem a mínima discussão por parte da sociedade. Era preciso mais discussão ou aprofundamento do debate.
O problema aqui — considere que esta é apenas uma contribuição ao debate —, é que a simples mudança de nome da guarda municipal poderá acarretar em uma autorização indireta para que os agora policiais municipais sejam portadores de armas de fogo em suas rotinas. É tragédia anunciada.
A medida acontece sem a opinião, sem qualquer debate, anuência ou questionamentos básicos das instituições da sociedade (Ministério Público, OAB, Associações de Moradores, Sindicatos, Lojas Maçônicas, Clubes de Serviços e outras), que deveriam se envolver neste que é o principal tema do Brasil na atualidade, cuja pauta é a violência. Ao que parece, o tema não incomoda a sociedade local, muito menos a perspectiva que exsurge da medida aprovada pela Câmara.
Significa que o município de Eunápolis, um dos mais violentos do Brasil, segundo o Atlas da Violência, passa a vivenciar a perspectiva de mais violência em suas ruas, a partir da democratização de armas, que nas mãos dos novos "policiais" tendem a se multiplicar por diversas razões, todo mundo sabe disso.
Anote-se que já existem centenas de milhares de policiais armados nas ruas e a violência cresce todos dias. Apenas nos quadros da Polícia Militar, a Bahia tem perto de 31 mil policiais, muito embora se constate facilmente a ausência de segurança pública nos bairros periféricos, onde se vivencia problemas que a polícia municipal não terá como solucionar, mesmo com o título aprovado pela Câmara.
À imprensa incumbe também, após análise e valendo-se ainda da perspectiva histórica, alertar a sociedade sobre determinados riscos sociais produzidos a partir de medidas impensadas, criadas pelo parlamento. Seja este um momento de a sociedade se manifestar em nossa cidade sobre o principal tema do Brasil.
Há temas que mereceriam a aprovação em plebiscito para serem levados ao parlamento e ao setor público de uma forma geral. A transformação das guardas civís em polícias municipais é um desses, porquanto mexe na estrutura da nossa parca segurança pública brasileira, afetando certamente o "ego" das polícias constitucionais já existentes.
Infelizmente, a bolha social brasileira composta por aqueles que não saem às ruas e que, portanto, não conhecem as periferias, entende que vivemos uma crise de segurança pública, o que é meia verdade. No afã de aplacar a violência urbana, tomam medidas para aumentar o número de armas nas ruas em um país que consagra o conceito “bandido bom é bandido morto”, gerando a carnificina diária que se vê.
Quem conhece as ruas, entretanto, constata a toda hora que a crise é social e de gestão. O Brasil precisa sim, estabelecer sua política de segurança pública, fortalecer as polícias militares e a judiciária. Jamais vulgarizar uma atribuição constitucional por conta de falácias de ocasião.
Veja a matéria que trata da mudança na Guarda, aprovada pela Câmara
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