Por paradoxal que pareça a sabedoria popular brasileira tem muito de identidade com o momento de ascensão de Donald Trump e sempre aponta caminhos aos governos e a certas ondas mundiais. Lembremos da proposta daquele técnico de futebol brasileiro que orientava com insistência e ênfase o jogador Mané Garrinha, da seleção brasileira de futebol, na véspera de um certo jogo contra o time da Rússia. Ante aquela avalanche de vontades do técnico, o jogador teria emitido questionamento antológico, que transpõe fronteiras e baliza, de forma bem humorada, alguns momentos do cotidiano da política e da economia: “o senhor combinou com os russos?”.
Sempre desperta expectativas a posse de um novo presidente nos EUA, a despeito de no caso de Trump as coisas do futuro já estarem mais ou menos desenhadas por ele. A julgar pelo que foi noticiado até agora, será um governo de bilionários, conservadores e militares, apoiados pelas big techs, com um tom agressivo em relação a imigrantes e a questões econômicas e tecnológicas, imposições, taxações, etc e tal, tendo à frente toda a pompa do dólar levando adiante os interesses de uma grande nação habituada a dominar militarmente pequenos países da periferia do planeta.
De certa forma o show que Trump organizou nos últimos meses, sendo ele um homem de comunicação, vai acontecer de qualquer forma, com as pautas que ele vem antecipando. De novo: é prevista a imposição de muita força econômica, tecnológica e militar para o alcance de metas. A questão é que na atualidade as vontades do governo norte-americano já esbarram em questionamentos poderosos. Aconteceram muitas mudanças no mundo. Instituições e movimentos que surgiram nos últimos 30 anos não mais recebem pretensões de Tio Sam como ordens, muito embora haja brasileiros, líderes políticos, até gente muito bem estudada, que mantém postura de subserviência e inferioridade diante do novo presidente, o que ofusca o debate político dentro e fora do Brasil como país líder da sua região.
De forma radical, no caso dos imigrantes, os quais ele pretende expulsar 11 milhões do país, estudos de institutos de grande credibilidade no próprio EUA indicam que para uma expulsão em massa, como pretende o novo presidente, seria necessário gastar alguns bilhões de dólares, com a possibilidade de que a saída desses milhões de imigrantes mexa de tal forma na economia, que o PIB de Tio Sam sofreria impacto negativo de 3 a 5%.
Há ainda a pretensão de anexar a Groenlândia (possessão dinamarquesa), onde já existem bases militares norte-americanas, pensando ele em explorar os recursos naturais daquela ilha que passaria a ser uma possessão dos EUA, para que se explore os minerais e ao mesmo tempo se prepare o lugar como uma referência militar para enfrentamento estratégico dos adversários do país.
Já a situação em relação ao canal do Panamá, que Trump pretende simplesmente tomar dos panamenhos, é algo que não deverá prosperar além da fértil imaginação do novo presidente, tendo em vista que outras forças influenciam o funcionamento e monitoramento de cargas naquela região. Lembremos que os EUA já operaram aquele canal durante 100 anos, mediante acordo internacional, após a construção do canal mediante contrato, sem que o Panamá gastasse recursos para isso.
Entretanto, não se duvide de uma ação militar de Trump contra a Venezuela. Os norte-americanos, como já se disse, são ótimos ao invadirem países pequenos e de exércitos fracos. Observe-se que o perfil de Nicolas Maduro se assemelha até fisicamente com Sadan Hussein.
De todo modo, o equilíbrio das coisas nos EUA seria muito positivo para todo o mundo. Contudo, há pretensões e pretensões. Em contexto em que a própria Europa, zangada ante ameaças, já questiona ações de Washington, parece ser esta uma oportunidade de questionar, ante planos radicais, inspirado na retórica do saudoso jogador Mané Garrincha: será que Donald Trump combinou com os russos?
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