Segunda, 24 de Março de 2025
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Ronaldo Santana, anticomunicação e Cordélia

Como as cidades são submetidas a visões equivocadas que prejudicam as populações e anulam os próprios gestores

09/10/2024 às 10h35 Atualizada em 09/10/2024 às 11h21
Por: LOURIVAL JACOME Fonte: Folhapop
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CRIME POLÍTICO - O radialista Ronaldo Santana, da extinta Rádio Jornal de Eunápolis, foi morto a tiros em 9 de outubro de 1997.
CRIME POLÍTICO - O radialista Ronaldo Santana, da extinta Rádio Jornal de Eunápolis, foi morto a tiros em 9 de outubro de 1997.

O processo de comunicação social, que envolve ações da imprensa e de outros setores correlatos através dos sites, jornais impressos ou não, algumas redes sociais e principalmente, no caso específico de Eunápolis, o rádio, é quase uma pedra no caminho dos governos municipais.

O objeto aqui não é fazer justiça. A imprensa não é o tribunal o júri. Mas, por dever de ofício, ela pode prestar uma contribuição para evitar que cidades com o perfil de Eunápolis se transformem de vez no paraíso do senso comum. Mas, a vontade do texto é prestar uma homenagem a um radialista que teve a vida ceifada, mas que a sociedade não dá a devida importância para que o fato não se repita.

Pode-se afirmar que uma cidade vai para cima ou para baixo conforme a condução da sua comunicação, seja a comunicação governamental ou as do mercado, a da imprensa em geral e a das agências de comunicação.

Neste sentido, Eunápolis é palco e laboratório de alguns fenômenos que tem neste 9 de outubro uma importante referência. No centro dessa discussão cabem alguns gestores municipais que gerenciaram esta e outras cidades da região.

São muitos os gestores que confundem alhos com bugalhos por aqui.  Mas em termos de equívocos, de subversão das coisas do jornalismo, da publicidade e da propaganda, nenhum deles chega aos pés de Paulo Dapé.

Em 1996, dentro de um cenário de disputas políticas reais, deputado estadual, Dapé foi eleito prefeito de Eunápolis pelo PMDB, que era um partido mais à esquerda, em uma aliança exemplar no interior da Bahia, fato festejado em todo o estado. Correndo por dentro daquele processo estava a comunicação social, com o jornalismo, a publicidade e a propaganda exercendo um papel crucial para o sucesso daquele grupo político.

Eis que a eleição do quatro letras, considerada (outra vez) uma das páginas políticas mais belas da Bahia, eclodiu como uma grande esperança para a região da Costa do Descobrimento. Um tempo em que quando a cidade de Eunápolis dava um passo para a frente, toda a região crescia e agradecia, com Porto Seguro quase coadjuvante.

Lamentavelmente, no seu primeiro ano de mandato como prefeito, o fenômeno Dapé, pelas péssimas influências, ignorância e irresponsabilidade em relação à comunicação do seu governo, permitiu a criação de um fato que ainda hoje repercute e que lhe nega desde então a legalidade para seguir em frente como agente político importante.

Foi o caso do radialista Ronaldo Santana, de saudosa memória, covardemente assassinado por determinação de um grupo de “especialistas” em conflitos de comunicação que o assessorava politicamente e que se achava mais real que o próprio rei.

Foi há exatos 27 anos, no dia 9 de outubro de 1997, a maior obra de comunicação atribuída ao então prefeito Paulo Dapé, pela sua inércia e desrespeito a princípios básicos. Por achar que qualquer oportunista pode gerenciar e executar a comunicação social.

Claro que o caso já foi encerrado judicialmente, teve gente cumprindo pena e outros nem tanto. Mas nada consta contra Dapé, que poderá voltar ao cenário nos próximos anos. Evidentemente vem à tona uma realidade que não se consegue alterar.

Mas, parece ser uma regra que os gestores públicos preferem em seus governos os comunicadores que nunca leram um livro sequer. Vendedores de carro, puxa-sacos de todos os quilates e calibres, curiosos, influenciadores disso e daquilo, putas, raparigas de luxo, analfabetos pós-graduados e outros menos votados. O resultado disso são as tragédias consequentes.

Em alguns casos a história se impõe e se repete. O caso Ronaldo Santana não impediu Dapé de repetir a dose. Em 2020 sua esposa Cordélia Torres foi eleita prefeita de Eunápolis aproveitando um vácuo de lideranças políticas que se fragilizaram por razões diversas.

Empossada em momento difícil em meio à pandemia, Cordélia teve ao seu lado desde os primeiros momentos do seu governo a anticomunicação. Um esquema em que os gestores da área não têm a mínima noção do que é comunicação. São pescados de qualquer nicho de politiqueiros que digam amém aos eleitos.

Foi assim que outra tragédia se formou, com a auto destruição do governo de Cordélia (obrigada pelas circunstâncias a desistir de concorrer à reeleição) pelas ações do próprio governo e pelas sucessivas equipes de comunicação alheias ao que se passava fora das salas onde Dapé imperou por mais quatro anos.

De tal forma, quando se analisa a atuação da área de comunicação do governo de Cordélia não se vai encontrar mais um assassinato de radialista, mas vai se constatar a malvadeza que se produziu dentro do seu próprio grupo para detoná-la.

Pela sua comunicação passaram importantes nomes do setor. Nenhum deles teve espaço para expor ideias e ideais, submetidos que foram a gestões distanciadas do profissionalismo desde as suas nomeações.

Ao radialista Ronaldo Santana, morto pela irresponsabilidade e insensibilidade políticas em 9 de outubro de 1997, junta-se o governo de Cordélia, sepultado vivo pela visão distorcida e a incompetência oferecidas à comunicação social que se faz nas prefeituras baianas.

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